Ufop emite nota de solidariedade à deputada federal Célia Xakriabá
Deputada Federal Célia Xakriabá participou de agendas em Ouro Preto no último fim de semana - Foto: Reprodução/Instagram
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A Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) emitiu, na manhã desta segunda-feira (6), nota de solidariedade à deputada federal Célia Xakriabá, que denunciou ter sofrido racismo em um restaurante de Ouro Preto, no início da madrugada desse domingo (5).

Na nota, assinada pela reitora Cláudia Marliére e pelo vice-reitor, Nalini Junior, a Ufop repudiou os atos racistas e destacou o caráter misógino do comportamento dos agressores. “O ato também pode estar carregado por aspectos de misoginia. Os mesmos opressores que tentam sufocar a ascensão das referências dos nossos povos originários, também tentam restringir o posicionamento das mulheres em posições de destaque”, escreveu.

A universidade ainda ressalta a opressão sofrida por indígenas que vivem onde hoje é Ouro Preto durante o ciclo do ouro, ressaltando a importância de combater o preconceito. “Ouro Preto, símbolo da opressão contra os povos Bonrum Kren, que aqui viveram durante o Ciclo do Ouro, precisa virar a página do preconceito, não podendo ser mais palco da intolerância racial em pleno Século XXI”.

Leia a nota na íntegra:

A Universidade Federal de Ouro Preto, ao repudiar qualquer forma e ato de racismo, vem manifestar solidariedade à deputada Federal Célia Xakriabá e suas assessoras indígenas, que sofreram constrangimento proferido por alguns turistas em um restaurante localizado no centro histórico da cidade.

As raízes profundas do Brasil Colônia que naturalizavam uma falsa inferioridade dos indígenas que aqui viviam, incentivadoras de inúmeros genocídios tipificados ao longo de nosso doloroso processo civilizatório, infelizmente continuam vivas.

Isso significa que crises e sofrimentos experimentados ao longo dos anos ainda persistem, a exemplo do caso dos Yanomami, e constrangimentos rotineiros contra representações que lutam para que isso não mais ocorra, seja aqui, seja acolá. Por isso, não podemos aceitar o mínimo retrocesso de qualquer avanço conquistado ao longo desses anos.

O ato também pode estar carregado por aspectos de misoginia. Os mesmos opressores que tentam sufocar a ascensão das referências dos nossos povos originários, também tentam restringir o posicionamento das mulheres em posições de destaque.

Ouro Preto, símbolo da opressão contra os povos Bonrum Kren, que aqui viveram durante o Ciclo do Ouro, precisa virar a página do preconceito, não podendo ser mais palco da intolerância racial em pleno Século XXI.

A esperança que manifestamos para essa mudança paradigmática, no entanto, se dá, por exemplo, na própria reação da proprietária e funcionários do restaurante onde ocorreu o episódio, colocando-se ao lado das indígenas, segundo relatos de membros de nossa comunidade que estavam presentes no local naquele momento constrangedor, ao que nos fortalece a reforçar o clamor por justiça.

Cláudia Marliére – Reitora
Hermínio Nalini Junior – Vice-reitor

Nos comentários da publicação no Instagram, alguns leitores confrontaram a nota, afirmando que a universidade não se posiciona ou atua enfaticamente em casos de racismo e outras violências que ocorrem dentro da instituição, mas que num caso que envolve terceiros, sendo um deles uma deputada, isso foi feito prontamente.

Entenda o caso

A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG) usou suas redes sociais para fazer, no início da madrugada deste domingo (5), uma denúncia de racismo sofrido por ela e duas assessoras, Ingrid Sateré Mawé e Werymehe Pataxó, num restaurante de Ouro Preto.

Segundo Célia, que é indígena, assim como suas assessoras, elas foram para uma confraternização que aconteceria num restaurante, após a participação da política em duas agendas na cidade de Ouro Preto, uma delas para falar sobre ecologia e decolonialismo.

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O trio foi para o local antes do restante dos participantes e, chegando lá, ouviram de homens, que estavam sentados em uma mesa no restaurante, o questionamento se “‘índio’ agora andava por ali”.

A deputada comentou o acontecimento e ressaltou o espaço de indígenas na sociedade. “Indígenas vão, fazem e são o que eles quiserem, inclusive deputadas federais. Não aceitaremos mais comportamentos racistas, comentários racistas. Isso é crime e as pessoas precisam ser responsabilizadas”, escreveu Célia.

Segundo as vítimas, todas ficaram muito abaladas com o acontecimento e chegaram a chorar e queriam deixar o local. Mas a administração do restaurante trabalhou para que elas continuassem no local. A deputada informou que um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Militar, pelo crime de racismo.

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