Roberto Cesar Ribeiro - Reprodução de Facebook
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Itabirito (Região Central de Minas) – A morte de Roberto Cesar Ribeiro (39), motorista da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), nesta quinta-feira (7), por complicações decorrentes da Covid-19, gerou repercussão não somente entre os colegas da unidade, mas também nas redes sociais. Essa perda ainda não foi registrada como o 25º falecimento em Itabirito por causa do coronavírus. Isso porque a Secretaria de Saúde da Prefeitura espera a declaração de óbito da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG). “Só quando tivermos acesso à declaração de óbito, saberemos qual município foi notificado. Quem centraliza isso é a SES-MG, que capta todos os documentos e os envia aos municípios”, informou a secretaria itabiritense.

A dúvida se dá porque Roberto ficou internado na UPA de Mariana e, depois, no CTI de Congonhas. Ele não chegou a ficar internado em Itabirito.  

A reportagem não conseguiu saber exatamente o porquê de Roberto ter ido para Mariana. Para esclarecer o assunto, o Radar Geral fez contato com a família da vítima por meio de ligação telefônica. Os familiares ficaram de retornar, mas isso não aconteceu. As informações sobre Roberto foram conseguidas por meio de servidores da UPA.

Está em verificação se Roberto tinha ou não residência em Mariana. Os colegas da UPA garantem que não. O óbito também não foi registrado no boletim da Prefeitura marianense (que contabiliza, por enquanto, 28 mortes).  

A fatalidade coloca em discussão, mais uma vez, a situação dos servidores da UPA que estão na linha de frente do combate à Covid-19.  

Últimos dias de Roberto

Segundo os funcionários da UPA itabiritense, apesar de apresentar sintomas como febre, cansaço e tosse com sangue, o motorista não conseguiu fazer o teste em Itabirito.

“Consegui que ele viesse pra Mariana, onde ele teve toda assistência e carinho, sendo imediatamente atendido. Eu disse pra ele ser forte, que ele ia vencer, que era apenas um vírus. Só que não. Ele piorou na segunda (4/1) à noite, e não conseguia respirar. Daí optaram por intubá-lo”, relatou o enfermeiro da UPA Luciano Souza, amigo de Roberto.

Segundo o enfermeiro, houve dificuldade para interná-lo em uma UTI. Todavia, finalmente, o motorista foi transferido para o CTI de Congonhas. Contudo, “foi tarde demais”, lamentou Luciano.

Comunicado sobre o falecimento de Roberto Cesar Ribeiro – Reprodução de Facebook

Pedido dos servidores da UPA

“Peço aos governantes da cidade de Itabirito que cuidem mais da saúde dos seus funcionários. Estamos adoecendo e morrendo sem ter a quem recorrer. A UPA está desleixada. O risco de contaminação dos funcionários é grande. Temos um exemplo perto: Ouro Preto, com um hospital de campanha padrão. Lá não se vê funcionários adoecendo e morrendo. Estamos com escala reduzida por falta de funcionários, não temos salários dignos”, disse o enfermeiro.

A “escala reduzida” é uma reivindicação nacional de profissionais de enfermagem. Em Itabirito, não há acordo com a Prefeitura sobre o assunto.

Ainda segundo Luciano, a diferença salarial de Ouro Preto para Itabirito chega a quase R$ 600. “Até quando teremos que trabalhar em dois ou três empregos pra completar a renda familiar?”, questionou.

Resposta da Prefeitura

A respeito dos exame para detectar a Covid, o secretário de Saúde da Prefeitura de Itabirito, doutor Marco Antônio Félix, respondeu: “A própria Funed (Fundação Ezequiel Dias) limitou o número de exames porque estava havendo um atraso muito grande (…). Mesmo assim, nós compramos exames. A ‘pesquisa de antígeno swabe na faringe’ nós estamos realizando. Ocorre que agora têm critérios clínicos, uma escala, um escore, em que nós determinamos independentemente do resultado do exame se o paciente apresenta um quadro ou não compatível com a Covid-19. Então, não a de ser estritamente o diagnóstico feito pelo exame. Sinais clínicos indicam que o paciente tem ou não Covid”.

Sobre os salários da enfermagem em Itabirito, o secretário disse que “isso é uma questão que tem de ser discutida mais amplamente. O pessoal está reclamando que quer trabalhar 30h semanais, e não as horas pelas quais fizeram concurso. Isso tem que ter parcimônia, tem de ter uma conversa. Já tivemos conversa com os funcionários, principalmente da UPA, que fazem este questionamento. E vamos discutir isso, mas com cautela, dentro do orçamento da Prefeitura. A gente sabe que não pode onerar a folha de pagamento. Têm questões legais que impõe limite de gasto com pessoal”.

Em tempo: apesar de “jovem”: tinha 39 anos, Roberto era hipertenso.

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