Vista da exposição 'A ferro e fogo'. crédito - Domi Valansi. Foto - reprodução.
Vista da exposição 'A ferro e fogo'. crédito - Domi Valansi. Foto - reprodução.
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O projeto Arte nas Estações – que leva parte da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf a Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete – anuncia uma nova temporada de itinerância nos dias 19, 20 e 22 de abril, com um amplo programa educativo integralmente gratuito.

O objetivo é não somente convocar público para as três exposições apresentadas pelo projeto, mas construir saberes em parceria direta com as comunidades locais. A partir do diálogo com as mostras (Sofrência, Entre o céu e a terra e A ferro e fogo), a equipe de educação realiza visitas mediadas, rodas de conversas, oficinas de pintura, formação para professores e uma série de ações de acessibilidade.

O projeto é idealizado pelo colecionador e gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald e teve inauguração nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro de 2023. O Arte nas Estações tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização da RKF Consultoria.

Com curadoria de Ulisses Carrilho, as mostras levam obras da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf – que em 2016 teve suas atividades encerradas no Rio de Janeiro, abrigando o maior acervo do gênero no mundo – para espaços fora do eixo Rio-São Paulo, com o objetivo de disseminar a sua potência.

Vista da exposição ‘Sofrência’. crédito – Domi Valansi
Arte Naif

Arte Naïf é o termo usado para identificar a produção de artistas autodidatas, que não tiveram acesso ao ensino formal de arte. No entanto, Carrilho reconhece que se trata de um termo questionável, defendendo a sua utilização para desmontar a ideia de inferioridade e sublinhar o texto político que estas obras carregam. “Essas exposições são sobre saberes que precisam ser respeitados e que não fazem parte de uma norma. Vamos levar estas obras a lugares aonde ainda não chegaram, bem como aprenderemos com os saberes locais em cada parada que fizermos”.

Para o curador, a itinerância é a mecânica comum entre as três mostras distintas, que ocupam temporariamente os espaços e seguem para a próxima estação. “Faz todo o sentido falar de arte popular através dessa estrutura que monta e desmonta, como os grupos de teatro ambulante e de circo”, reflete.

Sofrência

No Museu de Congonhas, “Sofrência” fala sobre apaixonamento e separação por meio de uma narrativa com início, meio e fim. Inspirada nas novelas, essa história apresenta ao público cenas de convívio social, flerte, festas e jogos de sedução, permeadas por poesias e poemas populares. “Olhar para essas obras faz lembrar como é político você dizer que ama alguém e manifestar o seu desejo”, reforça Carrilho.

Vista da exposição ‘Sofrência’. crédito – Domi Valansi
A Ferro e Fogo

O Paço da Misericórdia (antiga Santa Casa) em Ouro Preto, dá lugar à exposição “A Ferro e Fogo”. Nela, artistas populares abordam uma relação integrada entre as questões naturais e políticas. Manifestações e rebeliões são representadas nas obras que trazem cenas de luta pela preservação das espécies: uma mata exuberante, uma terra fértil, um povo nutrido de um forte desejo de construir.

Vista da exposição ‘A ferro e fogo’. crédito – Domi Valansi
Entre o Céu e a Terra

Por fim, a Estação Ferroviária de Conselheiro Lafaiete, a 96 km da capital do estado, recebe “Entre o Céu e a Terra”, que aborda as fés – sempre no plural. Crenças, manifestações religiosas e crendices populares aparecem em cenas noturnas, céus estrelados, aparições, graças alcançadas, súplicas fervorosas e seres fantásticos do folclore brasileiro. A exposição conta ainda com um núcleo em que estadistas são retratados, como José Sarney e Getúlio Vargas, trazendo para a discussão a necessidade de acreditar numa ideia de Brasil também através da política.

Vista da exposição ‘Entre o céu e a terra’. crédito – Domi Valansi

A expografia, criada por Janine Marques, tem como objetivo reforçar a temática explorada em cada exposição e faz uso de elementos regionais para valorizar a cultura local, criando vínculos de identificação com o público. “Cada espaço vai ser travestido três vezes, de três temas diferentes”, destaca o curador.

Para além das obras naïf, cada exposição conta com uma videoarte contemporânea escolhida para dialogar com as temáticas abordadas. Soledad, de Juliana Notari, O levante, de Jonathas Andrade e Nada é, de Yuri Firmeza, funcionam como dispositivos pedagógicos para criar discussão, interagindo com o presente.

O programa educativo tem como foco o trabalho com alunos das escolas de cada região e reforça o diálogo das mostras com as questões da contemporaneidade, abordando o papel do artista, a função social da arte e a aproximação com seus públicos.

O legado desta primeira iniciativa se reflete não só na realização do projeto Arte nas Estações, com a itinerância de algumas das suas obras, mas também no reconhecimento internacional de artistas como Odoteres Ricardo de Ozias. O seu trabalho, que serviu como ponto de partida para a exposição do Parque Lage, é exposto pela primeira vez em Minas Gerais, onde nasceu Ozias.

Para Carrilho, o projeto contribui para a valorização da arte popular, dando seguimento a uma espécie de revisão do que vem sendo considerado arte no Brasil, iniciada com a exposição de 2019. “Poder olhar para essa coleção com apreço pelo popular já é um fenômeno”, comemora. A força da poesia popular está não só na vivacidade das cores, mas também na capacidade desses artistas olharem para o exterior e fazerem o que Carrilho chama de “remix local”: “A cultura popular continua fazendo esse movimento de capturar o outro e de refazer a partir de si”.

Serviço: Arte nas Estações

Abertura: fevereiro de 2023

Encerramento: setembro de 2023

Itinerâncias da segunda temporada:

Ouro Preto

A FERRO E FOGO – 22 abr a 18 jun 2023

Paço da Misericórdia (antiga Santa Casa) – Rua Padre Rolim, 344, Ouro Preto – Minas Gerais

Horário de funcionamento: quinta a domingo, de 9h às 17h Entrada gratuita | Classificação livre

Conselheiro Lafaiete

ENTRE O CÉU E A TERRA – 20 abr a 18 jun 2023

Estação Ferroviária – Rua Cel. Bento, 75 ou R. Mal. Floriano Peixoto, s/n, – Centro Conselheiro Lafaiete – Minas Gerais

Horário de funcionamento: terça a domingo, de 9h às 17h Entrada gratuita | Classificação livre

Congonhas

SOFRÊNCIA – 19 abr a 18 jun 2023

Museu de Congonhas – Alameda Cidade Matozinhos de Portugal, 77, Congonhas – Minas Gerais

Horário de funcionamento: terça a domingo, de 9h às 17h Obs: O museu tem cobrança de ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), com gratuidade para todos os públicos às quartas.

Site: www.artenasestacoes.com.br

Instagram: @artenasestacoes

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