Padre Miguel usa a Tribuna da Câmara de Itabirito. Foto - Ascom
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Itabirito (Região Central de Minas) – Na noite desta segunda-feira (29/8), o padre Miguel Ângelo Fiorillo foi à Câmara explicar aos vereadores o desabamento do forro do altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, bem como o embargo das obras que estavam sendo feitas na edificação.

A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e foi o órgão federal que embargou as obras. Segundo o padre, a vistoria (que resultou no embargo) foi feita em um dia que a edificação histórica estava fechada. O que para ele é uma situação absurda.

“Foi feita uma denúncia anônima, não sei em que data, para a Ouvidoria (do Iphan), que determinou, corretamente, a apuração. Essa apuração se deu dia 2 de agosto. Só que nesse dia, a obra estava parada. O embargante coloca no laudo que a igreja estava fechada, e ele não pôde entrar no imóvel. Ou seja, o Iphan avaliou e embargou a obra sem entrar na Igreja do Rosário. Como se faz uma vistoria em um imóvel sem entrar dentro dele?”, questionou o padre, que é pároco de Nossa Senhora da Boa Viagem (responsável pela Igreja do Rosário).

No laudo, continuou o padre, há quatro fotos da igreja que, segundo ele, “são mentirosas”. Duas da área externa e duas da interna. De acordo com Miguel, essas fotos foram tiradas dias antes da vistoria, e não no exato momento. Por isso, não deveriam estar no documento, segundo ele.

Para o padre, o denunciante anônimo fez um “ato covarde” e o Iphan para vistoriar deveria pedir que a igreja fosse aberta. “O Iphan tem poder de polícia, e em um bem tombado, pode entrar, com a minha permissão ou não”, explicou o padre.

Na Câmara, várias mensagens e ofícios trocados entre a Paróquia e o Iphan foram lidos pelo pároco.

Ficou claro que as obras se iniciaram de forma legal, mas se tornaram ilegais após a denúncia que culminou no embargo.

Veja trecho do documento de embargo do Iphan:
Irregularidades constatadas no embargo. Imagem retirada do documento emitido pelo Iphan

Polícia Federal

Em outra ocasião, no dia 18/8, a Polícia Federal (PF) e o Iphan estiveram no Rosário para mais uma vistoria. A decisão foi de que o embargo continuaria. Para o padre, “não havia a necessidade da presença da PF”.

Sobre o fato de ter sido noticiado pela “grande mídia” que a igreja estava descaracterizada, com base em análise do Iphan e da PF, o padre foi taxativo: “Isso tem que ser provado!”.

Título de matéria do G1 (site da Sistema Globo). Imagem – Reprodução

O padre afirmou que o critério usado na reforma atual já foi autorizado pelo Iphan em outra obra (na mesma igreja) no ano de 2009.

Ele salientou que o ponto central do embargo (ainda com base em documentos do Iphan) foi a colocação de uma viga de concreto armado em um ponto em que não ficaria visível ao final dos trabalhos. “Não tem sentido se fazer uma obra hoje na igreja com técnicas do século 18”, disse o padre.

Documento de 2009 permitindo intervenção na Igreja do Rosário. Imagem – Reprodução

O pároco garantiu que tudo que foi retirado da igreja, durante a obra, será recolocado.

Definitivamente, o padre Miguel é um dos maiores especialistas em história da região de Itabirito, inclusive é referência para estudos acadêmicos. Durante a reunião com os vereadores, o sacerdote afirmou que é um “defensor do patrimônio histórico do município”.

O padre defendeu o contraditório dizendo que a Câmara deveria procurar “o outro lado”, ou seja, o Iphan.

Em entrevista à imprensa local, depois de falar na Tribuna, o pároco disse que teve uma reunião com o prefeito e com a secretária Municipal de Patrimônio Cultural de Turismo, e que a Prefeitura se colocou à disposição para se reunir com o Iphan.  

Ele ainda disse que as obras estão sendo feitas com recursos próprios e doação dos paroquianos e dizimistas.

Viga foi colocada na parte de cima. Foto – Divulgação

Desabamento do forro do altar-mor

Sobre o desabamento, o padre afirmou que aguarda a conclusão do Iphan. “Mas para mim e para o engenheiro ficou claro que o desabamento foi fruto de um embargo que o cidadão nem entrou na igreja para fazer”, voltou a frisar o pároco.

O padre deixou toda a documentação que apresentou aos vereadores, via PowerPoint, com o presidente da Câmara, vereador Arnaldo (MDB).

O presidente disse que um ofício da Câmara será encaminhado ao Iphan. “Nós vamos acionar a comissão permanente desta Casa, que envolve Cultura, e pedir que entregue, pessoalmente, esse ofício ao Iphan (…). As chuvas estão vindo e essas providências têm que ser imediatas”, disse o presidente ao enfatizar que o tempo chuvoso pode causar mais prejuízos à edificação.

Edificação essa que tem quase 300 anos.

Detalhe da igreja. Necessidade urgente de intervenção. Foto – Divulgação
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