Chuva em Itabirito: “Perdi 100% na minha loja”, diz proprietária que abriu as portas há 6 meses

Não faltam exemplos de lojistas que tiveram seus comércios devastados, em vários bairros de Itabirito (na Região Central de Minas), após estragos provocados pelas chuvas. Para muitos, trata-se da pior enchente da história da cidade. O Radar Geral fez as entrevistas a seguir na segunda-feira (10/1).   

Zoe

“Perdi 100% na loja. Perdi a loja inteira. É uma catástrofe que eu nunca imaginei que eu ia passar. Eu acho que a Prefeitura deveria ter avisado o povo (a respeito da enchente) porque tenho certeza de que ela sabia de alguma coisa. Estamos sem condições de resolver daqui para frente. Nós precisamos de ajuda. Não sei como, mas espero que a Prefeitura nos ajude. Nós estamos com pés e mãos quebrados. Não sabemos como recomeçar”, disse a lojista Gilmara Cristina (49 anos), dona da Zoe, inaugurada há seis meses, na Avenida Queiroz Júnior. Antes, no mesmo ponto, havia uma loja sob outra direção.

Quando o comércio sofre prejuízo, a cidade paga o preço: menos empregos, menos impostos etc. Em Itabirito, não é diferente. Primeiro, a pandemia com o lockdown. Depois, as consequências na economia mundial (com aumento de preços). Agora, as enchentes devastadoras.

Lojas Elisa

No município itabiritense, o que não faltam são exemplos de falta de expectativa em um futuro próximo. “É uma coisa caótica. Eu perdi muita coisa. A cidade está acabada. Muita destruição, muito triste. Foram dois anos de pandemia e agora a gente achava que em 2022 ia dar uma melhorada no comércio de Itabirito porque a gente não teve ajuda de ninguém, nem na pandemia. A Prefeitura faz o máximo que pode, mas é muito pouco para o comerciante. Eu não sei quando eu e outros comerciantes vamos reabrir as portas”, lamentou Joelma Peixoto, dona da Lojas Elisa.   

Loja São Miguel

Dona Divina Melo Pagano, da loja de panos e roupas São Miguel, é uma guerreira de 81 anos, que já enfrentou muitas enchentes. Moradora e lojista do Centro, ela classifica a situação como crítica. “A cidade está em calamidade. Não somente eu, mas ‘todos’ os comerciantes foram afetados. Não foram só os comerciantes, minha filha, por exemplo, perdeu tudo na casa dela. Ela não acreditava que viriam dois metros de água, mas vieram 2 metros e 20 centímetros (…). A lama levou tudo que ela tinha (…). Essa enchente foi a maior que já vi. Será que alguém vai nos ajudar?, questionou dona Divina.

Ótica Luisa

Audria Simões (20 anos) também lamentou: “Muito triste ver todo mundo perdendo tudo, sem alternativa de mudança por enquanto. É de cortar o coração”, disse ela, que é funcionária da Ótica Luisa, estabelecimento que perdeu, principalmente, o mobiliário. Isso porque os funcionários foram rápidos para retirar a mercadoria.

Araújo Panificadora

A Araújo Panificadora, na Eurico Rodrigues, também foi devastada. “Tudo destruído: freezer, geladeira, fornos. Não tem mais nada,” disse a funcionária Natália dos Reis (21 anos).

Mesmo tendo sérios problemas em seu local de trabalho, Natália conseguiu tempo para ajudar amigos da sorveteria Frutos de Góias, que funciona na Queiroz Júnior. “Itabirito nunca viu uma situação assim. É muito triste ver a situação dos comerciantes. Não tenho palavras para descrever”, disse ela.

Sapataria Avenida

Senhor Celso Antônio de Lima Ribeiro (80 anos), da Sataria Avenida, conhece Itabirito como poucos. Residente e comerciante do Centro, para ele, a situação é atípica. “Nunca vivenciamos isso. Lamentavelmente faz parte da vida. A gente tem que lutar para chegar com as coisas no lugar”, afirmou.

Voluntário

Para o voluntário Giovanni Santos (de 30 anos), servidor da Câmara de Itabirito, o cenário é de guerra. “Nunca vi isso na minha vida. Estou ajudando quem eu posso. A gente está fazendo essa força-tarefa para ajudar sempre. O momento é delicado. Tem que ter cautela, mas estamos aí para ajudar e somar sempre”, disse ele, que foi mobilizado pelo presidente, vereador Arnaldo Pereira dos Santos (MDB).

Giovanni e Natália são somente dois exemplos de voluntários que estão ajudando a limpar a cidade, como outros cidadãos não afetados diretamente, vereadores, funcionários de lojas, do Legislativo e da Prefeitura (sem vínculos com Obras ou Limpeza Urbana).

Vice-governador em Itabirito

Itabirito recebeu na terça-feira (11/1), o vice-governador do Estado, Paulo Brant (PSDB), que veio com uma comitiva. “Do ponto de vista do Governo do Estado, nosso compromisso é dar as mãos e apoiar nesse primeiro momento. E, em médio prazo, atuar visando minimizar a probabilidade de situações como essa se repetirem”, afirmou o vice-governador.

Pela manhã, Paulo Brant sobrevoou o município em aeronave da Polícia Militar de Minas Gerais. Em seguida, percorreu as áreas mais atingidas com a presença do prefeito Orlando Caldeira (Cidadania). A agenda foi finalizada com reunião com representantes das entidades comerciais e de desenvolvimento de Itabirito.

Ações dos governos estadual e federal

Entre as ações emergenciais e de reconstrução discutidas na reunião, foram prometidas: medidas de apoio a empreendedores locais afetados pelas enchentes por meio da abertura de linhas de crédito especiais; reestruturação da logística para envio de vacinas e demais suprimentos de Saúde a Itabirito; e utilização das forças armadas para abertura de rotas alternativas com o propósito de minimizar situações como a interdição de trechos da rodovia BR-356.

“Estamos diante de um fato histórico em Minas Gerais. Obviamente, é impossível evitar danos. Há dezenas de providências que precisamos enfrentar, caso a caso. Junto com governos estadual e federal, iremos vencer este momento”, afirmou o deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB), que também esteve na comitiva do vice-governador.

Caminhão de apoio humanitário

Na segunda-feira (10/1), Itabirito recebeu um caminhão de apoio humanitário encaminhado pela Defesa Civil Estadual.

A carga reuniu itens como colchões e artigos de higiene e de limpeza, que serão posteriormente destinados às famílias desabrigadas em razão das enchentes.