Juiz de Itabirito, Antônio Francisco: “A cor (negra) só nos dá força para mostrar que somos capazes”
Antônio Francisco na Câmara de Itabirito - Foto: Reprodução - YouTube
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O juiz de Itabirito (MG), Antônio Francisco Gonçalves, em fala na Tribuna da Câmara de Vereadores, na segunda (18/11), explanou sobre o Dia da Consciência Negra (data da morte de Zumbi – líder do Quilombo dos Palmares) celebrada nesta quarta (20/11).

Na condição de um dos homens mais importantes do município, o juiz negro falou um pouco sobre sua vida, sobre a história de Zumbi e das conquistas do negro à luz das leis brasileiras.

Doutor Antônio, como é conhecido, teve trajetória de vida marcada por esforço e dedicação – qualidades que tiveram de superar também sua delicada saúde.

Chefe do Judiciário de Itabirito (juntamente com a juíza Vânia da Conceição), Antônio teve grave câncer no estômago e, na sequência, uma infecção hospitalar. Inclusive, as bem-sucedidas provas para que se tornasse juiz foram feitas por ele dentro de um hospital – em isolamento. Tempos depois, Antônio perdeu seu pai por complicações da mesma doença.

Bem da verdade, na Câmara, ele focou no assunto “Consciência Negra”, tendo como exemplo sua história. Ou seja, o juiz não mencionou o câncer e todas as consequências da enfermidade (que impõe a ele restrições até hoje em dia).

FALAS DO DR. ANTÔNIO

“Para o negro, tudo é mais difícil. Mas quando a gente chega, a gente olha pra trás e vê que tudo valeu – que todo esforço valeu. Por ser mais difícil, a gente aprende a ser mais humano, mais solidário e olhar o próximo como nosso irmão.”

“Ainda hoje em Itabirito, quando vou ao Banco do Brasil, é comum, quem não me conhece, falar: ‘Bom dia, irmão’. Eu, certamente, cumprimento: ‘Bom dia, irmão’”, disse o juiz ao relatar que, muitas vezes, um negro de terno é visto somente como segurança ou evangélico. “Temos de fazer com que isso mude”, afirmou.   

“É importante que quem está em uma posição acima seja espelho. Alguns acreditam que a cor os excluem. É importante dizer que a cor não exclui. A cor só nos dá força para mostrar que somos capazes.”

“Quando entrei na magistratura, quantas vezes eu ouvi dizer: ‘Besteira! Não precisa ir porque lá você não vai passar. Sua cor não permite você entrar na elite do Poder Judiciário’.”

“Na foto da minha magistratura (há 24 anos) me orgulho em dizer que eram eu e mais dois (negros) em uma turma de 89 (pessoas).”

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