Itabirito: homem de Mariana, que tentou matar companheira, em Acuruí, pega 13 anos de prisão
Momento em que o juiz dr. Antônio lia a sentença. O condenado (de costas) está de camiseta branca - Foto: Radar Geral
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MINAS GERAIS – 13 anos e 4 meses. Essa foi a pena que Fabiano de Oliveira Soares (de cerca de 39 anos de idade), da cidade de Mariana, foi condenado pelo Tribunal do Júri, em Itabirito, nesta quinta (12 de dezembro).

O crime que ele cometeu se deu de sábado para domingo – mais exatamente da noite de 26 para a madrugada de 27 de março de 2023, na Pousada Contrafortes do Espinhaço, no distrito itabiritense de Acuruí. Desde então, o autor está preso no Presídio de Mariana.

A vítima é a professor Joelma Gualerto das Graças Alberto (hoje com 50 anos). Ela atua na Educação Infantil de Mariana. Joelma permitiu ao Radar Geral que fossem divulgados seu nome e as fotos (impressionantes) de sua condição após a violência.

“Achei pouca a pena! Esperava pelo menos 20 anos”, disse ela ao Radar, minutos após ser lida a sentença pelo juiz Antônio Francisco Gonçalves. Membros da família do condenado, no entanto, aparentemente, acharam a sentença pesada: “Ele foi vítima!”, disse, chorando, uma parente de Fabiano.

O CRIME

O relato da vítima e toda a história é, no mínimo, impactante. A situação, segundo ela, começou quando Fabiano mudou radicalmente o humor (para pior), quando, dentro de um dos chalés da pousada, viu no celular de Joelma mensagens de internautas perguntando onde ela estava.

Essas mensagens, de acordo com o relato dela, surgiram no Instagram, rede em que ela postou (momentos antes) uma foto de uma cachoeira que fica dentro da área da pousada. Na imagem, não havia pessoas – era só uma bela queda-d’água (nenhuma outra informação constava no post). “Perguntas comum em qualquer rede social quando as pessoas têm interesse de conhecer um lugar bonito”, explicou ela.

Aparentemente por causa das perguntas, ele começou a bater nela e ofendê-la dentro do quarto: “Vagabunda! Você não vale nada!”, dizia ele. Ela, então, gritou pedindo socorro. Chegou um funcionário da pousada. A vítima agarrou o trabalhador pedindo ajuda. Mas Fabiano o empurrou e disse que o casal estava indo embora, que não era nada, que era somente uma discussão e que ele podia voltar para sede da pousada (que ficava a cerca de 10 minutos do Chalé).

Aproveitando que Fabiano foi ao banheiro, ela correu para fora do chalé. Ele foi atrás. Descontrolado. “Como um monstro, um animal”, lembrou ela. A partir de então foi uma série de tapas, socos, chutes e pauladas. “Cheguei a pensar: Deus, eu desisto! Achei que eu fosse morrer”, contou ela.

Foram tantos socos que ela deslocou a mandíbula, quebrou dentes e nariz e quase ficou cega do olho direito. “Não havia uma parte sequer do meu corpo que não ficou muito machucada. Ele me pegou pelos cabelos e me arrastou pela escadaria da parte externa da pousada. Arrancou um pedaço do meu couro cabeludo. Pedi ajuda. Gritei. Na pousada, havia movimentação na parte do dia. Mas eu não sabia se naquela noite, naquele momento, havia hóspedes. Bati nas portas, mas não apareceu ninguém para me ajudar. Não havia um cachorro sequer para latir e amenizar o pesadelo que eu estava vivendo”, contou em prantos.

O crime aconteceu em Acuruí – Foto de 2018 – Romeu Arcanjo – Minuto Mais

O responsável do momento pela pousada (hoje ex-funcionário) disse na audiência: “Tenho trauma dessa situação. Sou meio ‘cagão’ pra esse tipo de coisa. Não sabia se ele estava armado”. Esse funcionário afirmou que pediu demissão após o ocorrido.

Ele ainda relatou que acompanhou grande parte da violência por meio das câmeras. As imagens (estranhamente) se perderam e não foram apresentadas nos autos. “Ele bateu muito nela: na cabeça, no corpo, em todo lugar”, salientou o ex-funcionário. “Não sabia o que fazer. Nunca tinha vivido algo desse tipo”, continuou ele enquanto enxugava os olhos (o Radar não conseguiu saber se ele estava emocionado).

A coisa ganhou uma proporção tão absurdamente covarde e criminosa, que ele a jogou na piscina: “Eu não sei nadar. E quando, não sei como, eu estava conseguindo sair da piscina, ele chutou meu rosto para que eu voltasse para a água”, relatou ela. “Foi quando quebrou meus dentes”.

O sargento da Polícia Militar que atendeu a ocorrência contou: “Ela estava totalmente desfigurada. Não estava conseguindo responder às perguntas. Além dos ferimentos por todo o corpo, estava com hipotermia. Achei que ela fosse morrer”.

Em meio às agressões, o autor chegou ter ferimentos uma vez que a vítima tentou se defender com uma garrafa (que ela quebrou) e usou contra ele. “Mas ele me tomou essa garrafa”, afirmou ela.

A DEFESA

“Julguem como se estivessem julgando um parente próximo. Se ele quisesse ter matado, ele teria matado”, disse um dos advogados de defesa.

Os advogados do réu (que são referências em Mariana) alegaram “legítima defesa”. “Ele repeliu de maneira injusta a agressão que sofreu. Ele foi provocado. Ele pegou ela conversando ao telefone. Houve consumo de álcool. Ele foi atingido (com a garrafa) por ela na coxa, cabeça e costas. Perdeu a noção. Ficou atordoado”, disse o advogado de Fabiano. “Não se faz um país justo condenando alguém por um crime que ele não cometeu. Ele tem que pagar pelo que fez: nem mais nem menos!”, explanou o advogado.

A bem da verdade, todos que não tinham vínculos familiares com Fabiano ficaram escandalizados com o caso: “A sociedade de Itabirito não aceita esse tipo de atitude!”, disse o juiz na hora de ler a sentença.

O condenado (ficou claro pela sentença) tentou cometer um assassinato (feminicídio) por motivo fútil – sem dar à vítima condições de se defender.

O RELACIONAMENTO

Na pousada, a ideia era tentar a reconciliação do casal, que (depois de namorar por mais de 1 ano) estava separado há 4 meses. “Eu não queria ir, mas ele insistiu muito. Ele sempre foi chato, insistente e violento. Eu sempre terminava, mas ele dizia que ia mudar, pedia desculpas, me perseguia. Estava sempre atrás de mim, pelas ruas, de maneira doentia. A diretora da escola chegou a chamar a polícia para ele. Os policiais ficaram dois dias na porta da instituição”, garantiu ela em depoimento ao Radar Geral.

Apesar de todos os transtornos vividos pelo casal antes da ida à pousada, ela jamais acreditou que ele poderia chegar à tamanha violência: “Hoje eu acredito que ele tinha a intenção de me matar ao propor o passeio e ao escolher o mais distante dos chalés”, disse Joelma – que após o fato ficou 7 dias no Hospital João XXIII, em BH; 1 ano sem poder trabalhar; teve que reconstituir o maxilar; perdeu grande parte da visão do olho direito (e por causa disso, teve de reaprender a andar); abandonou o esporte que tanto amava (que era corrida); teve síndrome do pânico; crise de ansiedade; e, em breve, deve passar por uma cirurgia para tentar recuperar parte da visão que perdeu.

IMAGENS IMPACTANTES

No dia da tentativa de feminicídio, a situação deplorável que a vítima ficou – Fotos cedidas ao Radar Geral
Existe algo que justifique isso? – Foto cedida ao Radar Geral
Durante o intenso e dolorido tratamento – Fotos cedidas ao Radar Geral

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