Matéria atualizada às 20h30, de 12/7/2022, com complemento da fala do prefeito.
Leia mais sobre este assunto – Itabirito: prefeito sugere que invasores de imóveis no Country voltem para suas casas (clique aqui)
Itabirito (Região Central de Minas) – Há cerca de uma semana, 17 famílias, todas do Quinta dos Inconfidentes (bairro conhecido como Country), invadiram 17 casas em construção no mesmo bairro. São, ao todo, cerca de 50 pessoas, sendo 25 crianças e alguns idosos. Segundo eles, as construções estão abandonadas há cerca de 10 anos. Vivendo na miséria, sem água encanada, luz, banheiro e dependendo, muitas vezes, de favores, eles já foram comunicados que o próximo passo das autoridades é que o Batalhão de Choque da Polícia Militar os retire à força.
Nesta terça-feira (12/7), eles disseram que os militares estiveram no local pela terceira vez. A expectativa é que os agentes de segurança cumpram a ordem judicial de reintegração de posse nas próximas horas.
O grupo se juntou tendo em vista a alta da inflação e o preço do aluguéis em Itabirito. De acordo com eles, o Poder Executivo Municipal não tem respondido aos pedidos de socorro.
Em resposta ao Radar Geral, a Prefeitura se limitou a dizer que: “oficialmente, não está ciente da situação narrada”.
Resposta do prefeito
Procurado pela reportagem, o prefeito Orlando Caldeira (Cidadania) foi taxativo: “Eu sugiro que eles voltem de onde vieram”.
Em mensagem enviada ao Radar Geral depois desta matéria publicada, o prefeito afirmou: “Favor considerar o que eu disse: ‘que eles retornassem para suas casas, pois eles estavam morando em casas antes das invasões'”.
De acordo com Orlando, a maioria dos invasores veio de outras cidades. “A Prefeitura não pode pagar aluguel social a todos que invadem residência em Itabirito. Isso é inviável. A ordem judicial vai ao encontro da lei. Você gostaria que alguém invadisse sua residência?”, perguntou o prefeito ao repórter.
De acordo com o chefe do Executivo, pessoas, inclusive de outros estados, vêm a Itabirito com intenção de usufruir dos serviços que são oferecidos, via Município, aos cidadãos itabiritenses.
Ainda segundo Orlando, a Prefeitura pode entrar como parceira em construções de casas populares, “mas a obrigação é do governo federal, com o Programa Casa Verde Amarela”, garantiu.
A respeito de os invasores não serem de Itabirito, Lucimar Maria da Silva (de 49 anos) é exceção.
Ela afirma que nasceu em Itabirito e que mora no município desde então. “Morei no bairro São Geraldo e agora estou no Country. Trabalhei na reciclagem, mas por causa da minha asma e bursite, não pude continuar”, afirmou.
Reportagem conversa com invasores
Os invasores receberam a reportagem do Radar Geral por duas vezes. Eles sabem que invadir é contra a lei, mas garantem que não tiveram alternativa.
A seguir, um pouco da história de alguns deles:
Wellinton Gonçalves
Com 32 anos, Wellington mora há cinco meses em Itabirito. Na área em questão, ele é tido como um dos líderes. “A gente não está dormindo por medo de não ter para onde ir. Se formos despejados, vamos para a porta da Prefeitura ou para área do Julifest”, disse.
Com problemas cardíacos, Wellinton afirma que não tem condições físicas para trabalhar. “Estou tentando me aposentar”, salientou.
Ele morava de aluguel no Country, mas atualmente: “ou a gente paga aluguel ou a gente come”, desabafou.
Thiago Júnio Nunes
Vendedor ambulante, Thiago (de 27 anos de idade) mora há 18 anos em Itabirito. Contudo, nasceu em Mariana.
Na área de invasão, Thiago (que é pai solteiro) mora com seu filho de 5 anos. Ele tem outro filho, de 9 meses, que mora com a avó.
Thiago conta que vende artesanato na Praça São Sebastião, mas atualmente só pode trabalhar nos fins de semana e feriados, com base em determinação da Prefeitura. “Quase não tem ninguém na rua quando a gente pode trabalhar”, lamentou.
Thiago ainda disse que o espaço de venda de picolés e sorvetes da Kibon na São Sebastião estava sob sua responsabilidade, mas a Prefeitura teria encerrado o ponto para revitalizar a praça.
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Natália Melo
De Aracaju (Sergipe), Natália (de 25 anos) está há dois anos em Itabirito. Nesse tempo, sempre morou no Country.
Ela é mãe de quatro crianças: de 1, 3, 4 e 8 anos de idade, e espera mais um: está grávida de 5 meses. “Não sobra dinheiro nem pra comprar fralda”, afirmou.
Atualmente, vive com seu marido, que está desempregado, e procura judicialmente receber pensão para três dos seus filhos – que ela teve em relacionamento anterior. “Mas a Justiça não encontra o endereço do pai”, afirmou.
Natália recebe o Auxílio Brasil, do governo federal. “Tenho só essa renda. Vivo de favor”, lamentou.
Maria das Dores
Com 62 anos de idade, Maria das Dores vive em Itabirito há mais ou menos 25 anos, mas nasceu em Itamarandiba (Alto Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais). Entre idas e vindas, está no município itabiritense há 8 anos consecutivos. Já morou, por exemplo, no bairro São José.
Atualmente, vive com seu neto de 4 anos de idade e é viúva. Não recebe o Auxílio Brasil. Segundo Maria das Dores, é porque ela ganha pensão. Contudo, como contraiu empréstimo no banco, sobram (para ela) cerca de R$ 640 por mês.
Fernanda das Graças
Com 36 anos, Fernanda é mãe de duas crianças, que moram com ela: uma de 2 e outra de 5 anos de idade. Tem também um filho de 18 anos, que está desempregado.
Recebe o Auxílio Brasil, mas não pode trabalhar. “É porque não tenho com quem deixar meus filhos”, garantiu.
Ela nasceu em Belo Horizonte, e mora em Itabirito há 5 anos. Já morou no Novo Itabirito, mas há 2 anos vive no Country. “Estou ‘correndo atrás’ do pai da minha criança de 2 anos para ele pagar pensão. O outro não sei onde está. Não sei se está preso”, disse.
Gabriela Aparecida
Morando há 5 anos em Itabirito, Gabriela é de Mariana. Tem 23 anos de idade e mora com seus dois filhos: de 2 e 8 anos de idade.
Está desempregada e tenta receber o Auxílio Brasil, mas segundo ela até agora não conseguiu.
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