Adotar paradigmas e defender, sem questionar, o que o “politicamente correto” ensina. Em meio às incertezas e aos constantes “disse e desdisse” das autoridades médicas a respeito do coronavírus, há infelizmente um consenso velado: “alguns setores” têm de pagar a maior parte da conta proveniente da pandemia.
Não se quer com esta matéria contradizer as verdades ditas absolutas do exato segundo. A intenção é simplesmente expor uma realidade: a dificílima situação dos donos de bares e dos músicos (que trabalham na noite), especificamente, de Itabirito (na Região Central de Minas), onde após breve autorização para reabertura, a Prefeitura decidiu pelo fechamento de restaurantes, bares etc. após as 22h. O motivo são os aumentos dos casos de coronavírus. Outras cidades de Minas tomaram medidas semelhantes.
Porém, em nota enviada à imprensa nesta quinta-feira (10), a Prefeitura informou que os bares e restaurantes estão autorizados a funcionar pelo delivery. Sendo assim, podem fazer entregas em domicílio após as 22h. Todavia, não está autorizado o funcionamento, após o referido horário, para entrega direta ao cliente no próprio estabelecimento.
Entre as opiniões, o destaque é para a do fisioterapeuta intensivista que atua na linha de frente da Covid-19 em quatro hospitais. Ele é dono do Hops! Bar. Confira ao final desta reportagem.
Centauro Bar Pub – Fechado até 2ª ordem
Em novembro do ano passado, José Francisco da Silva (34), conhecido como Dinho Barman, começou a colocar em prática o sonho de sua vida: o Centauro Bar Pub, que fica no bairro Santa Efigênia, praticamente ao lado do Posto Bela Vista.
Em uma construção antiga e, em parte, inutilizada, o empreendimento foi montado: 400 metros quadrados, três ambientes (contando com espaço aberto), revestimento acústico, sem vizinhos muito próximos, o pub estava se preparando para gerar diversão, emprego, renda. Contudo, hoje a realidade é outra.
Sem ter direito a trabalhar pelo fato de o pub estar fechado, Dinho tem de pagar R$ 2.500 mensais de aluguel. Já chegou a pagar R$ 3 mil de luz. Está com R$ 6 mil em bebidas estocadas. Tem 13 funcionários. Fez investimento de cerca de R$ 250 mil. Possui sistema com 18 câmeras que lhe custa R$ 700 mensais. “O pub é resultado de 14 anos de trabalho. Estou tentando segurar até o último minuto, mas não estou dando conta. Todos nós que trabalhamos com eventos, estamos sendo empurrados para a falência. Parece que os governos estão pouco se lixando se vamos passar dificuldade e até fome”, desabafou Dinho, ressaltando que, como milhões de brasileiros, tem família para sustentar.
Dinho afirma que não nega o coronavírus. “Não queremos que a Prefeitura ignore a Covid. Queremos sim uma ajuda para que a gente possa manter o investimento e os empregos”, salientou.
Segundo Dinho, em seu estabelecimento, ele coíbe o uso de drogas, pode limitar o número de pessoas, pode distribuir máscaras, disponibilizar álcool em gel, recorrer à tecnologia para evitar filas (há um totem com uma máquina por meio da qual o cliente pode fazer compras com cartão sem precisar ir ao caixa). Entretanto, nada disso tem relevância se o estabelecimento estiver fechado (como está atualmente).
Dinho ressalta que eventos clandestinos acontecem em Itabirito, não há distanciamento no dia a dia das pessoas e há vários comércios de comida clandestinos (sem CNPJ). “Como ‘concorrer’ com essa realidade? Não tenho outro ganha-pão”, enfatizou ele.
Bendito Bar – “Acreditei que Itabirito era o lugar ideal para cuidar da minha família”
Acreditar no potencial de Itabirito. Foi essa a certeza que fez Jovane Ferreira Macedo de Souza (33) abandonar seu antigo emprego na área de telecomunicações e se mudar de Uberlândia para o município itabiritense há cerca de quatro meses.
Ele comprou o ponto onde hoje funciona o Bendito Bar, no Centro de Itabirito, em frente à Pousada de Minas.
Jovane possui duas funcionárias fixas e dois freelancers, contraiu empréstimo no banco para investir no seu sonho, e hoje acumula R$ 30 mil em dívidas.
“Fica muito complicado ver lojas e supermercados, por exemplo, estendendo o horário de funcionamento. Por que esses estabelecimentos podem funcionar, e o setor de entretenimento não? Por que a gente não pode trabalhar até depois das 22h? Será que o coronavírus só sai de casa após este horário?”, questionou Jovane.
Segundo ele, seu faturamento caiu 30% depois que foi assinado o decreto de encerramento de atividades em bares (e similares) depois das 22h, em Itabirito.
Hoje o bar é a única fonte de renda de Jovane, ou seja, é o sustento de sua família. “Por que há poucos dias, no período eleitoral, era tolerada aglomeração, e hoje não mais?”, perguntou.
Da mesma forma que Dinho Barman, o dono do Bendito Bar não nega a Covid-19. “Todos meus funcionários usam máscara, disponibilizo álcool em gel até para o cliente levar para casa se ele quiser, há tolha de papel no estabelecimento, há distância entre as mesas”, exemplificou.
Tadeu Gon – “Tive de vender guitarra, pedal e microfone”
Músico profissional há 10 anos, Tadeu Gonçalo da Silva (35), conhecido como Tadeu Gon, guitarrista da Banda Galaxy, amargou prejuízo de mais de R$ 3 mil desde que a pandemia começou. “Um mês antes do fechamento, fiz um investimento em meu trabalho como músico e não obtive retorno”, afirmou.
Desde que os trabalhos na noite foram encerrados por causa da pandemia, a renda de Tadeu caiu em cerca de 50%. Ele é auxiliar administrativo efetivo da Prefeitura de Itabirito, é casado há sete anos e é pai de dois filhos: um de 3 anos e outro de 5. “Sem a oportunidade de trabalhar como músico, deixo de ganhar R$ 1.200 por mês”, lamentou. “Essa renda número 2 (a música) é que salva o sustento de minha família”.
Diante das dificuldades, Gon teve de se desfazer de instrumentos e aparelhos importantes para sua carreira. “Vendi uma guitarra, pedal, microfone e estou anunciando outros aparelhos”, lamentou.
Para ele, “não faz sentido paralisar o setor de eventos, bares, casas de shows e músicos se as pessoas (muitas vezes, até mais vulneráveis) se aglomeram em bancos e supermercados, por exemplo. É comum ver pessoas com doenças crônicas andando sem máscara pelas ruas de Itabirito”, disse ele. “Ou fecha tudo, ou não fecha nada!”.
Hops! Bar – Dono é também profissional de saúde que contesta paradigmas
De todos os casos desta matéria, a situação de Leonardo Silveira (36) é talvez a mais tranquila financeiramente falando. Entretanto é dele a opinião mais polêmica com relação à pandemia.
Leonardo é dono do Hops! Bar, que fica em frente à Casa de Cultura Maestro Dungas, no Centro de Itabirito. Praticamente, ele nem sequer chegou a abrir seu estabelecimento. “Não contabilizei o prejuízo”, disse ele.
O sustento de Leo (como ele é conhecido) vem de fato de sua profissão. Ele é fisioterapeuta intensivista. Trabalha em quatro hospitais: três particulares e um do SUS, todos de Belo Horizonte. Atua na linha de frente contra a Covid-19.
Leo é também professor nos níveis técnico e superior. Apesar de cuidar de pacientes sendo responsável, por exemplo, pela configuração de ventiladores pulmonares e da higienização das vias áreas dos doentes pela Covid-19, Leo tem uma opinião que pode desagradar a muitos. “O que a população quer escutar é realmente a verdade?”, questionou.
Ele garante: “Não desmereço o vírus, a doença é grave. Contudo, é a mesma gravidade de uma influenza. O problema real é com os pacientes que têm comorbidades (associação de várias doenças). Muitos pacientes mais jovens, inclusive, já podem ter tido a doença. Pessoas com problemas no sistema imunológico é que correm, de fato, risco. No Brasil, superestimam os casos de Covid-19. Pacientes, que não estão com Covid, são diagnosticados como se estivessem. Muitas vezes, laringite, faringite são diagnosticadas como Covid para aumentar a ‘receita local’”.
Segundo o profissional de saúde, O SUS paga, normalmente, de R$ 5 mil a R$ 6 mil mensais por internação em UTIs. Contudo, se o diagnóstico for de Covid, são pagos R$ 19 mil por internação em UTIs. Ou seja, segundo ele, a Covid movimenta um montante financeiro bem-vindo para hospitais, municípios e estados.
“Somente 10% dos casos de Covid são realmente Covid. Os outros 90% não são. Câncer, Aids, AVC matam mais que Covid (…). Além do lucro que a Covid gera, o problema se prende à politização do tipo ‘ser de esquerda ou ser de direita’. Não entro nesse mérito”, garantiu.
Segundo ele, os profissionais de saúde sabem dos perigos dessa politização para a saúde e para economia. Contudo, muitas vezes, preferem não se manifestar.
Ele alerta para os perigos das restrições. “Diminuir o tempo de funcionamento de qualquer comércio, por exemplo, faz com que as pessoas se aglomerem mais, e isso vai na contramão do que é pregado”, disse Leo.
E o pior, quando o assunto é a economia, ainda está por vir. Em breve, segundo o fisioterapeuta, o Governo de Minas deve anunciar a volta da Região Central de Minas (na qual estão inseridas Itabirito, Ouro Preto e Mariana) à Onda Vermelha (a mais restritiva do Plano Minas Consciente).