Sede do Minas Mais em Itabirito. Foto Radar Geral
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EXCLUSIVO – Em um alojamento do Consórcio Minas Mais, em Itabirito (Região Central de Minas), 30 trabalhadores que testaram positivo para o novo coronavírus e que estão assintomáticos convivem diariamente com outros que testaram negativo. O vírus é o que provoca a doença Covid-19.

No distrito de Santo Antônio do Leite, em Ouro Preto (MG), haveria outro alojamento em situação semelhante.

A denúncia chegou ao Radar Geral por meio de funcionários da empresa. Dois vídeos feitos por eles explicando a situação foram conseguidos pela reportagem e estão nesta página. As imagens e os sons foram distorcidos a pedido de um dos denunciantes. Isso para evitar qualquer tipo de represália.

O consórcio trabalha para a Vale e é o responsável pelas obras em Itabirito, na região do Bação, que visam erguer os muros de contenção para um eventual desmoronamento de barragens. É responsável também pela alta dos empregos no município.

Veja o primeiro vídeo, e na sequência a continuação da matéria:

Os detalhes da denúncia

De acordo com os denunciantes, os testados positivos estão em quarentena numa pousada a cerca de 5 km da área urbana itabiritense. Há no local cinco seguranças (com resultados negativos nos testes para a Covd-19) que se revezam em turnos. Esses seguranças, que seriam auxiliares administrativos, muitas vezes, não mantêm uma distância segura de seus colegas com testes positivos.

Já no alojamento que ficaria no distrito ouro-pretano, o Radar não conseguiu saber os detalhes da situação.     

Em Itabirito, os “funcionários negativos” não usam vestimentas descartáveis para proteção pessoal contra o coronavírus, somente máscaras.

Segundo os denunciantes, os mesmos veículos seriam usados para o transporte de empregados infectados e não infectados.

Na empresa, de um modo geral, de acordo com relatos, ônibus e vans usados para transporte de funcionários não são higienizados como deveriam, ou seja, a cada viagem.

Álcool em gel está disponível para todos os empregados, “mas poucos usam”, diz um dos denunciantes.

Por causa da situação, os denunciantes acreditam que a empresa seja uma das responsáveis pela disseminação da Covid-19 em Itabirito, por exemplo.

Segundo o boletim da Prefeitura de Itabirito, nesta terça-feira (13), o município itabiritense apresentou 700 casos confirmados e duas mortes.  Já Ouro Preto, na mesma data, registrou oficialmente 210 casos confirmados e seis mortes.

Veja o segundo vídeo, e na sequência a continuação da matéria:

Outro lado

Segundo o infectologista da Prefeitura de Itabirito, Marcelo Araújo, não haveria necessidade de o Minas Mais isolar os pacientes da forma como está acontecendo. Isso porque o que foi feito pela empresa, segundo ele, na maioria dos casos, foi somente o teste rápido.

Para o médico, o Minas Mais atende a um protocolo e demonstra boa intenção. Contudo, “é um erro, um exagero, um excesso de zelo”, salientou ele.

O médico usou um exemplo fictício para deixar a situação mais clara: “Se o trabalhador se infectar no dia 1º de julho, ele transmitirá o vírus até o dia 13 de julho, mas testará positivo (no teste rápido) somente a partir do dia 8 de julho”. Para ele, os trabalhadores não deveriam ficar em quarentena por 15 dias, como vem acontecendo no consórcio. “A fase de transmissão dura de três a quatro dias após o resultado do teste sorológico dar positivo”, afirmou.  

De acordo com o infectologista, os que têm de ficar de quarentena são os sintomáticos, mesmo que não estejam infectados pelo coronavírus.

Perguntado se esses trabalhadores assintomáticos deveriam estar trabalhando, o médico respondeu: “Tem de ser específico. Depende de quem está se referindo. Não tem resposta simples. Um dos problemas é querer tratar fenômeno complexo sem lidar com a complexidade”.

Ainda de acordo com o doutor, o teste rápido detecta o anticorpo. Sendo assim, a contagiosidade praticamente já passou. “A empresa tem ciência dessa situação, mas prefere isolar os que passaram somente pelo teste rápido por respeito a um protocolo”, garantiu.

O ideal, segundo ele, é o exame PCR, que normalmente é feito somente para casos com sintomas graves. “Poucos fizeram o PCR no consórcio”, disse.  

Em nota, a mineradora respondeu:

A Vale informa que está realizando a testagem de seus empregados próprios e terceirizados para Covid-19.  A medida faz parte do conjunto de ações de prevenção e enfrentamento do novo coronavírus adotadas pela empresa, que incluem ainda triagem diária, uso obrigatório da máscara, medidas de distanciamento social e higienização, além da manutenção de um contingente mínimo em suas operações.

A Vale mantém diálogo com os órgãos competentes e comunica as autoridades de saúde sobre casos suspeitos e/ou confirmados. Em respeito à privacidade de seus empregados, a empresa não comenta sobre resultados de exames.

Importante destacar que a empresa está retirando do ambiente de trabalho aqueles que testaram positivo, ainda que assintomáticos, bem como todos os que eventualmente possam ter tido contato com o empregado que testou positivo. Dessa forma, a companhia previne que não haja contágio em suas operações.

A Vale reforça ainda que segue os protocolos de saúde e segurança estabelecidos pelas autoridades e agências de cada um dos países em que opera.

Respostas do Minas Mais e de Ouro Preto

Tanto o Consórcio Minas Mais como a Prefeitura de Ouro Preto ainda não responderem os questionamentos do Radar Geral.

Matéria atualizada às 11h05 de 14/07/2020.

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