Toninho Telefunken. Foto - Romeu Arcanjo - Minuto Mais -Arquivo 2016
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Sexta-feira (20 de novembro), no Dia Nacional da Consciência Negra, o Radar Geral entrevistou o líder negro em Itabirito Antônio Carlos Dias, o conhecido Toninho Telefunken (63 anos). “A mortalidade de negros em Itabirito continua imensa. Recentemente, além de uma chacina na qual a maioria era negra, houve pelo menos mais um assassinato. A forma mais eficiente de combater a disseminação da violência é por meio de projetos sociais, culturais e esportivos”, disse Telefunken, que ressalta que o problema é mundial.

O líder negro itabiritense é presidente de honra do Axé Agbá, grupo que existe há 29 anos e há cerca de 20 anos trabalha com crianças e adolescentes carentes de Itabirito. Segundo Telefunken, antes da pandemia, cerca de 40 menores eram beneficiados pelo Axé Agbá, que oferecia gratuitamente aulas de percussão.  

Janeiro de 2020 – Axé Igbá na Festa da Coroação do Reinado, no Rosário, em Ouro Preto. Foto – Reprodução – Facebook

De acordo com Telefunken, o que poderia ser uma forma de diminuir o envolvimento de jovens com o tráfico de drogas (maior motivação para os assassinatos em Itabirito), o Axé Agbá não recebe o apoio necessário do poder público.

Todavia, ele admite que há, atualmente, um projeto para oferecer a crianças e adolescentes aulas de percussão por meio do Axé Agbá. Tal projeto tem o apoio da Secretaria de Patrimônio Cultural e Turismo da Prefeitura de Itabirito. “Infelizmente, por causa da pandemia, o projeto ainda está parado”, disse ele.

Os negros e a História do Brasil

Para Telefunken, o povo brasileiro é afrodescendente. “A gente vê isso nas características das pessoas. São comuns no Brasil, brancos com cabelo crespo, nariz largo, beiçudo. São indícios da raiz negra do brasileiro. A nossa capoeira é negra, a Bahia é o lugar com mais negros fora da África, a histórica Ouro Preto é negra, existe a força do candomblé na nossa cultura, nossa padroeira (Nossa Senhora da Aparecida) é negra”, disse ele.    

Telefunken concorda que no passado, antes de os negros se tornarem escravos dos europeus, os próprios negros da África guerreavam entre si, e escravizavam as tribos perdedoras, ou seja: negros escravizaram negros. “Mas isso não é desculpa para que fora da África os negros se tornassem escravos do homem branco”, salientou.

Ele não refuta a História que diz que milhares de negros chegaram ao Brasil por volta de 1550, por meio dos navios negreiros. Contudo, “quando os europeus vieram, em 1500, negros escravos estavam com eles. Os negros eram a mão de obra”, disse Telefunken.

“Vidas negras importam”, finalizou Telefunken, referindo-se ao movimento “Black Lives Matter”, que começou em 2013 após a absolvição, nos Estados Unidos, de George Zimmerman (que atirou fatalmente no adolescente negro Trayvon Martin).

Em maio de 2020, o movimento ganhou proporções maiores com a morte de George Floyd depois de uma ação policial em Minneapolis (EUA).

Este ano, por causa da pandemia, não houve eventos na Semana da Consciência Negra de Itabirito, tradicionalmente organizada por Telefunken, que costuma ter discussões sobre o tema, oficinas de ritmos nas escolas (inclusive na zona rural), desfile afro e a missa afro na Igreja do Rosário.

Desfile com crianças, em 2019, durante a Semana da Consciência Negra, em Itabirito. O evento teve a participação de Betina Borges (do Instituto de Beleza Betina Borges), uma referência em beleza negra na capital mineira desde 1976. Foto – Reprodução – Facebook

Em tempo: Dia Nacional da Consciência Negra tem a ver com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.  

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