Maria do Carmo e André Lopes na formatura da esposa dele. Foto - Arquivo de família - Reprodução de Facebook
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“Uma mulher guerreira e batalhadora, que lutou por nós, seus filhos, por toda a vida, e que agora perdeu pra um inimigo que nem conseguimos ver. Infelizmente, a Covid venceu a senhora. Ficamos aqui com o coração partido, mas na certeza que a senhora lutou até o fim. A senhora vai ficar sempre em nossos corações”. A declaração entre aspas é parte da homenagem de André Lopes Pimenta Faria (39) feita à sua mãe em seu perfil no Facebook. Ele é filho de Maria do Carmo Lopes (69), a 19ª vítima da Covid-19 em Itabirito (na Região Central de Minas), que morreu no domingo (13). A morte entrou para o quadro de óbitos do boletim epidemiológico da Prefeitura na segunda-feira (14).

Durante a entrevista ao Radar Geral, que durou pouco mais de 1h e foi feita pelo telefone, André se mostrou preocupado com a situação de Itabirito. Para ele, muitos no município não estão levando o problema com a seriedade que se impõe. “Só passarão a ter consciência se acontecer (complicação decorrente da Covid) na própria família. As pessoas acreditam que o negócio é brincadeira. O vírus está aí. No fim de ano, são comuns: rua, família, aglomeração. Tudo isso é quase que inevitável. A situação pode piorar”, acredita ele.

André externou seu desejo de que todas as pessoas se protejam. “Cheguei a sair de uma empresa e um dos motivos foi a aglomeração no ambiente de trabalho”, garantiu.  

Mesmo tomando uma série de cuidados, André testou positivo para Covid-19. O mesmo aconteceu com alguns parentes próximos.

Ele acredita que foi infectado porque esteve em contato com a mãe. Ela, por sua vez, tivera contato com um tio dela que poderia estar infectado.

Segundo o filho, sua mãe saiu de casa somente a vez que ela teria tido contato direto com vírus.

Sintomas e aumento dos casos

Segundo André, alguns sintomas entre os infectados de sua família foram semelhantes: como falta de olfato e de paladar. Contudo, o destino da sua mãe, e de outras 18 pessoas em Itabirito, bem como o aumento de infectados no município são provas da gravidade do problema.

De quinta-feira (17) para sexta-feira (18), foram 68 novos casos da Covid-19 em Itabirito. No boletim de sábado (19), mais 66 testados positivo. Neste domingo (20), mais 46 infectados registrados. Total, até agora, 3.917 casos confirmados no município itabiritense.    

Arte: Prefeitura de Itabirito

Em Itabirito, e na maioria dos casos pelo mundo, a Covid matou muito mais pessoas com comorbidades (associação de várias doenças). Foi o caso de Maria do Carmo. Ela era diabética e hipertensa.

Um dos receios de André é que os jovens, que insistem em ficar nas ruas de Itabirito, possam espalhar a contaminação (como já vem acontecendo).

A caminho da cremação  

Enquanto levava o corpo de sua progenitora para ser cremado (um pedido feito por ela à família), André lamentou ao ver um estabelecimento, em Itabirito, cheio de pessoas sem máscara. “Fiquei com vontade de parar e expor a minha situação. Ainda bem que não fiz isso. Poderia ter arrumado uma confusão”, lembrou.

Para André, a Prefeitura de Itabirito e os governos, de um modo geral, não estão fazendo o que deveriam para conter aglomerações. “Se continuar assim, devem acontecer muito mais mortes em Itabirito”, acredita ele.

A Covid em Maria

Maria do Carmo Lopes era cozinheira e chegou inclusive a cozinhar no Clumi (da terceira idade).

Em 27 de novembro, sentiu os primeiros sintomas da Covid-19. Dia 28, foi para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde ficou cerca de quatro dias. Estava estável e, por isso, foi transferida para o Hospital São Vicente de Paulo, em Itabirito, onde ficou um dia e meio. Depois, disse ao médico que estava bem. Recebeu alta e foi para a casa.

Em casa, passou mal novamente. Voltou para a UPA onde ficou aproximadamente mais quatro dias.  Foi, mais uma vez, transferida para o hospital de Itabirito. E, depois, levada para a Santa Casa da Misericórdia, em Ouro Preto (MG), onde ficou três dias. Não resistiu.

“Ela foi muito bem tratada o tempo todo. Os médicos fizeram tudo para ajudá-la. Por estar medicada, não acho que ela tenha sentido mais dores do que sentia normalmente por causa de seus problemas de saúde. Mas ela teve falta de ar, falta de paladar e olfato, e dores pelo corpo. Em um dos exames, os pulmões dela estavam 25% comprometidos devido à Covid-19. Em outro exame, chegou a 50% dos pulmões tomados”, explicou o filho.

Apesar de ser grato aos profissionais da UPA e dos hospitais. André acredita que exames não estão sendo disponibilizados para a população de Itabirito como deveriam. Familiares dele tentaram fazer o teste via saúde pública e não conseguiram.

Percepção da perda

Quando a reportagem pediu para que ele explicitasse seu sentimento diante da morte de sua mãe, André disse: “Há pouco mais de dois anos, frequento uma casa espírita. Isso por um problema de perda na família de minha esposa. Ela perdeu o pai e a mãe. Viemos de famílias católicas e estávamos procurando respostas no espiritismo. Hoje entendo melhor a passagem para o ‘outro plano’. Estou sofrendo, mas entendo que a missão da minha mãe chegou ao fim. Fiquei triste, mas acredito que meus irmãos estejam sofrendo mais”.

Sem festa, sem aglomeração

Para André, há mais pessoas infectadas em Itabirito do que mostram os números oficiais. “Se tiver de ficar em casa neste Natal ou Réveillon, qual é o problema? A solução está em nossas mãos”, acredita ele.  

Matéria atualizada às 22h32 de 20/12/2020.

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