Lula em Mariana: ‘Se a Vale fosse uma pessoa, iria para as profundezas do não sei o que’
Lula e o prefeito Juliano Duarte, em Mariana - Foto: Reprodução Canal Gov
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Em plena campanha para tentar reverter sua baixa popularidade (segundo todos os institutos de pesquisa), o presidente Lula, em Mariana (MG), nesta quinta (12/6), não se ateve a divulgar, digamos, as “boas-novas” de seu governo e, como de costume, fez ataques com ímpeto de um eterno candidato.

A princípio, o presidente foi com a justificativa de “anunciar avanços do Novo Acordo Rio Doce”, homologado no ano passado.

Leia: Vale garante que chegou a acordo definitivo com Poder Público de reparação da tragédia de Mariana

Contudo, Lula voltou, por exemplo, a criticar a Vale. Disse que se a empresa fosse uma pessoa iria para as “profundezas do não sei o que”. Tal expressão é comumente usada como “profundezas do inferno”.

O petista afirmou ainda que a empresa era “muito forte” quando era do Estado e quer que a Vale “se recupere, que ela volte a ser a 1ª”.

De acordo com informações do site Poder 360, a Vale passou por um 2º processo de privatização durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“O então ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu a participação do governo nas ações da mineradora de 26,5% para 8,6%. A Vale, assim, se tornou uma corporation, ou seja, uma empresa de controle privado, com capital diluído no mercado”, informou o site, que ressaltou que Lula saiu derrotado, neste atual mandato, em sua 1ª investida sobre a Vale, na qual tentou colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no comando da mineradora. “O governo operou para emplacar o aliado na empresa, mas acabou fazendo um recuo tático diante da resistência dos acionistas privados e a reação negativa do mercado”, explicou o Poder 360.

ZEMA

Seguindo os passos do líder Lula, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, elevou o tom contra o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO).

Em Mariana, Macedo chamou o governador de “mentiroso” e “ingrato” e afirmou que ele deveria “lavar a boca com Qboa” antes de falar sobre Lula.

VAIAS

Durante a visita, Lula defendeu o prefeito de Mariana, Juliano Duarte (do PSB – partido da base do governo federal) das vaias vindas do público.

O chefe do Executivo Municipal foi vaiado enquanto tentava falar sobre as dificuldades que Mariana vivenciou após a tragédia provocada pelo rompimento da barragem.

O presidente interveio e pediu que participantes não o hostilizassem e que guardassem as diferenças para o período eleitoral, mas não em um dia histórico para a cidade mineira.

Lula foi a última autoridade a falar e, antes de seu discurso, deu flores e beijou a primeira-dama, Janja da Silva. Na sequência, enalteceu o Novo Acordo Rio Doce, assumindo a responsabilidade do governo federal nas medidas de reparação.

“Nós trouxemos esse acordo para nossas costas, enquanto era a Vale que não cumpria, era fácil culpar a Vale. Mas agora eu tenho falado com os meus ministros: nós fizemos um acordo e trouxemos a responsabilidade de fazerem as coisas acontecerem para as costas do governo. Portanto, agora, nós não temos mais desculpa, agora as coisas têm que acontecer”, declarou o presidente.

ACORDO DE MARIANA

Às vésperas de o rompimento da barragem de Fundão completar nove anos, o novo acordo de reparação dos danos causados pela tragédia foi assinado, em outubro de 2024.

A expectativa inicial era de que ele fosse assinado em 2021, mas impasses sobre valores e cláusulas adiaram a conclusão.

A barragem se rompeu em 5 de novembro de 2015, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração destruíram comunidades e modos de sobrevivência, contaminaram o Rio Doce e afluentes e chegaram ao Oceano Atlântico, no Espírito Santo. Ao todo, 49 municípios foram atingidos, direta ou indiretamente, e 19 pessoas morreram.

Nos últimos meses, após discordâncias sobre o valor terem suspendido as conversas entre as partes, as negociações foram retomadas e aceleradas, sob mediação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6).

ENTRE AS MEDIDAS ANUNCIADAS POR LULA EM MARIANA ESTÃO:

• Programa de Transferência de Renda (PTR): voltado a agricultores familiares e pescadores impactados, prevê pagamento mensal de 1,5 salário mínimo por 36 meses, seguido de mais 12 meses com 1 salário mínimo. Cerca de 37 mil famílias devem ser beneficiadas, com investimentos de R$ 3,7 bilhões nos próximos quatro anos.
• Hospital Universitário de Mariana: será construído por meio de parceria entre Ministério da Saúde, Educação, Universidade Federal de Ouro Preto e prefeitura. O investimento é de R$ 200 milhões e a unidade atenderá casos de média e alta complexidade.
• Planos de Ação em Saúde: Mariana, Ouro Preto, Barra Longa e Rio Doce receberão R$ 167 milhões para custeio e ampliação da rede de saúde.
• Observatório da Educação da Bacia do Rio Doce: com investimento de R$ 9 milhões até 2027, fornecerá diagnóstico sobre os desafios educacionais nos 49 municípios atingidos em Minas Gerais e no Espírito Santo.
• 15 Centros de Formação das Juventudes: espaços com cursos profissionalizantes e atividades comunitárias. Somados a um pacote de R$ 81 milhões para melhorias nas escolas, com placas solares, cisternas e climatização de salas de aula.
• Novas Assessorias Técnicas Independentes (ATIs): Cáritas e AEDAS serão responsáveis por assessorar comunidades de Mariana e Barra Longa, com o objetivo de fortalecer a participação popular na reparação.

Texto feito a partir de informações do InfoMoney, Jovem Pan, Poder 360 e G1.

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