Adriana Fajardo (28 anos) vive com seu marido, Cesar Santaella (26), e mais cinco filhos em uma pequena casa no bairro Pedra Azul, em Itabirito (na Região Central de Minas). Trata-se de uma família venezuelana, que encontrou abrigo e emprego no município itabiritense.
Os filhos de Adriana, atualmente, têm 2 anos (duas gêmeas), 6 e 13 anos (meninas) e 8 anos (menino).
De acordo com ela, confirmando o que se fala no Brasil, por causa da pobreza extrema e da falta de oportunidade sem precedentes naquele país, os venezuelanos estão comendo carne de cachorro e até de ratos.
Adriana conta que carne de cachorro é vendida no mercado formal da Venezuela. Esse tipo de “alimento” não faz parte da cultura venezuelana (como acontece na China, por exemplo), mas sim foi introduzido tendo como realidade a fome. “É uma situação crítica. Não se vê cachorros nas ruas. E algumas pessoas criam cães para comer”, lamentou ela.
Segundo Adriana, a carne, de um modo geral, é muito cara na Venezuela. “Frango não se consegue. Se consegue é muito caro, chegando a custar 18 dólares o quilo. Um pedacinho de carne de segunda de boi, chega a custar 20 dólares”, disse Adriana, em entrevista ao Radar Geral, concedida na tarde de sábado (1º/10).
O OVF (Observatório Venezuelano de Finanças), em um inquérito com mais de 300 empresas, divulgou que salário médio dos trabalhadores naquele país é de 53 dólares (dados de junho de 2021), ou seja, 278 reais (na cotação de 20/10/2022). Por sua vez, o salário mínimo venezuelano atual é de 28,07 dólares.
A fuga
De acordo com Adriana, seu esposo e mais três filhos saíram em 9 de dezembro de 2019, a pé, de Simón Rodríguez (cidade onde viviam), a 6 km de Caracas (capital da Venezuela), rumo a Pacaraima (em Roraima). Foram cinco dias de caminhada – 1.500 km de distância aproximadamente. Em 13 de dezembro daquele ano, eles chegaram ao Brasil.
Grávida de suas gêmeas, Adriana teve dois lindos bebês um dia depois de chegar à fronteira (em 14 de dezembro). “Não fomos deportados porque os policiais federais do Brasil entenderam a nossa situação. Eu estava prestes a ter minhas filhas, e minha outra filha (na época, com 11 anos) chorava muito. Eu ainda estava com febre e com as pernas muito inchadas”, lembrou.
Apesar de sua gratidão com o Brasil, ela admite que muitos refugiados venezuelanos não conseguem entrar em solo brasileiro – são impedidos pela Polícia Federal.
Por causa de sua situação, ficou cinco dias hospitalizada em Roraima. Já em um abrigo em terras brasileiras, Cesar (o marido), por sua vez, começou a trabalhar limpando banheiro e refeitório. Foi quando uma vaga de emprego surgiu em Itabirito e a família veio morar em Minas Gerais.
Vivendo em Itabirito desde fevereiro de 2021, e no bairro Pedra Azul há pouco mais de quatro meses, a família recebe aluguel social da Prefeitura. Ela é auxiliar de limpeza e ele estava trabalhando como ajudante de motorista, mas atualmente Cesar está desempregado. Adriana recebe um salário mínimo.
“O brasileiro tem bom coração”, afirma ela, não somente se referindo às pessoas que a ajudaram e ajudam em Itabirito, mas também quanto à recepção que eles tiveram ao chegar à fronteira do Brasil com o país de Nicolás Maduro (ditador venezuelano).
Saúde na Venezuela
Perguntada sobre como é a Saúde pública na Venezuela, Adriana respondeu que está um caos, principalmente pela falta de profissionais da área. “Médicos e enfermeiros venezuelanos migraram para a Espanha ou para os Estados Unidos na busca por melhores condições de vida”, afirmou.
Por que o Brasil?
O motivo de a família de Adriana ter vindo para o Brasil, e não para Colômbia ou Peru, é que “os colombianos e peruanos tratam mal o imigrante venezuelano”, afirmou.
Apesar da calamidade em seu país, ela diz que entende quando uma nação não aceita venezuelanos. Isso porque “são muitos os imigrantes que saem da Venezuela”, disse.
A bem da verdade, também por dificuldades com a língua pátria, o Brasil não é o principal refúgio do povo da Venezuela. De janeiro de 2017 a março de 2022, o Brasil recebeu 325.763 venezuelanos. Em primeiro lugar, está a Colômbia (que recebeu 1.842.390 refugiados); em segundo, está o Peru (1.286.464); Equador (513.903) e Chile (448.138). Os dados são da plataforma R4V, com informações das Nações Unidas e do governo brasileiro.
Maduro e o Brasil
Apesar de Adriana Fajardo ainda não votar no Brasil (seus documentos estão em processo de regularização), o marido dela, segundo ela própria, pode votar. Ele, inclusive, já possui a carteira de registro nacional imigratório (obrigatória para todo imigrante detentor de autorização de residência).
Tendo em vista a relação ideológica, de amizade e de proximidade entre o candidato Lula (PT) e o ditador Nicolás Maduro, Adriana teme pelo futuro do Brasil, caso o petista conquiste a presidência. Para ela, Lula e Maduro são como irmãos. “Ele (Lula) não tem bons pensamentos”, acredita.
A afinidade de Maduro e o candidato do PT não é imaginação de Adriana e vai para além do Foro de São Paulo (grupo de líderes de esquerda da América Latina, criado em 1990, com discurso unificado).
Para se ter uma ideia, quando o ditador venezuelano ganhou a eleição de 2018 (em escolha marcada por denúncias de fraude eleitoral e boicote da oposição), o PT emitiu um comunicado saudando o pleito venezuelano e o presidente reeleito. “Gostemos dele ou não, a Venezuela tem um presidente eleito”, afirmou Lula, em entrevista à agência de notícias Reuters à época. “Os EUA precisam desistir dessa mania de querer ser o xerife do mundo”, salientou o petista.
Em seu governo, Maduro assassinou milhares de venezuelanos que ousaram contestar a ditadura instaurada naquele país. Foram 7.523 mortes de pessoas que resistiram à prisão em 2018 e 2.124 até maio de 2019. Os dados são de uma ONG local e foram divulgados pela Folha de São Paulo, em 4 de julho de 2019.
Outra situação que coloca Lula e os governos ditatoriais esquerdistas venezuelanos como próximos é o desembolso, via BNDES, de 1,5 bilhão de dólares. Dinheiro esse “emprestado” à Venezuela pelo governo petista. Parte desse montante não foi paga.
Entre as obras executadas no país vizinho, com o valor repassado pelo Brasil, estão as linhas do metrô de Caracas e uma linha do metrô de Los Teques.
Quem quiser ajudar
A família de Adriana é pobre e tem dificuldade para comprar, por exemplo, carne e medicamentos, principalmente, para as gêmeas, que sofrem com ataques epiléticos. Segundo a mãe, o medicamento genérico é disponibilizado pelo SUS. Contudo, não surte o resultado esperado. “Tenho que comprar o original”, disse ela.
Além disso, as duas crianças apresentam baixa hemoglobina e precisam comer carne de fígado. “Pelo fato de a carne estar cara, a gente tem dificuldade para comprar”, salientou a venezuelana.
Quem quiser ajudar, a família vive na Rua Guajajaras, 200 B, no meio do morro de acesso ao bairro Pedra Azul. Telefone para contato (principalmente via WhatsApp) é o (31) 9 7189-1414.