Radar Literário
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Imagine se vivêssemos – enfaticamente – sem a certeza de que iríamos acordar amanhã e viver um dia provavelmente comum (pós e após pandemia): com trabalho, aulas, almoço, banho e jantar. Porque apesar de nem termos mesmo essa certeza, inconscientemente é como se a tivéssemos. Talvez, por isso, não paramos muito para pensar. Ainda mais no atual estilo de vida, no qual parar é privilégio.
No entanto, imagine se as coisas fossem diferentes. E a regra geral da vida fosse outra: só teria direito a um próximo, quem aproveitasse de verdade o seu atual dia. Quem trabalhasse com gosto, quem estudasse com seriedade, quem tivesse carinho e compreensão com familiares, amigos e conhecidos. E não valeria, de jeito algum, estar com aquela imensa má vontade – pra não dizer preguiça – de ir pro seu local de trabalho. Muito menos estar em sala de aula e não ter a mínima ideia do que o professor está falando – e nem fazer questão.
Não bastaria também somente ter filhos. Seria preciso sentar junto e fazer o dever de casa. E ter com eles uma incontestável paciência, ainda que eles “não saíssem do seu pé” e não parassem de questionar o que é tudo, o tempo todo.
Não valeria apenas cumprimentar o vizinho ou um conhecido. Seria preciso parar e perguntar-lhe de verdade “Como você está?”. E ter a disposição, também verdadeira, de ouvir a resposta.
Não bastaria deixar os dias se passarem, sempre à espera de algo melhor ou de que um milagre caísse do céu e mudasse sua vida. Você, sim, teria que ser o completo responsável por isso.
Só então, após cumprir essas metas, quando chegasse o finzinho do dia, lá pelas 23h55, você receberia o seu tão sonhado “Ticket do Dia Seguinte”. E teria direito a viver mais 24 horas pra fazer a diferença, ao invés de desperdiçar a maioria dos dias de sua vida.
Priscilla Porto é jornalista e autora dos livros “As verdades que as mulheres não contam” e “Para alguém que amo – mensagens para um pessoal especial”.