Leonardo Ruggio com o documento da Polícia Civil, que atesta que a cadela estava morta ao ser arrastada. Foto - Radar Geral
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O relatório de necropsia da Polícia Civil de Minas Gerais concluiu que estava morta a cadela quando o animal foi arrastado pela BR-356, em Itabirito (Região Central de Minas), por Leonardo Ruggio, dono do Museu Jeca Tatu. A cadela, que era do Canil Municipal, foi adotada por Ruggio há cerca de três meses antes de ir a óbito.  

O caso, que aconteceu em 13/6, revoltou três testemunhas que passavam de carro pelo local e viram a cena. Segundo consta no boletim de ocorrência da Guarda Civil Municipal (GM) de Itabirito, foi relatado, a princípio, que o animal estava sendo arrastado vivo.

Veja a seguir o documento que apresenta a conclusão da Polícia Civil sobre o caso. Na sequência, a continuação da matéria:

Pesadelo

A vida de Leonardo Ruggio se transformou após o episódio. Ele conta que chegou a ser acusado, pelas redes sociais e até pessoalmente, de maltratar a cadela e de arrastá-la viva.

Segundo ele, o faturamento do museu (que incluiu lanchonete) diminuiu após o acontecimento. “Chega cliente e me pergunta toda hora a respeito do caso. O movimento do meu comércio caiu. Houve ainda um constrangimento muito grande dentro da minha família, entre meus filhos e netos”, afirmou.

Ruggio pediu, por diversas vezes, que os nomes das três mulheres que o acusaram fossem divulgados pelo Radar Geral. “Da mesma forma que aconteceu comigo (…). Elas (as denunciantes) deveriam ter vindo aqui (no museu) e saber de mim a verdade, e não colocar meu nome nas redes sociais e na mídia como aconteceu”, acredita Ruggio.

Como foi

O Museu Jeca Tatu fica às margens da BR-356. Ruggio encontrou a cadela morta na tarde de sábado (12/6) em um canto do terreno onde fica seu empreendimento. Como o corpo estava fétido, no domingo (13/6), Ruggio resolveu arrastá-lo a cerca de 150 metros do seu estabelecimento. Para isso, amarrou as patas da cadela em seu Fusca e a puxou pela estrada.

“Não tinha outra forma de eu resolver o problema. Era fim de semana. Se eu chamasse a Zoonoses, ninguém viria. Eu não poderia ficar com aquela cadela morta prejudicando meu comércio. O cheiro era insuportável. Não tinha como eu colocá-la dentro do meu carro”, afirmou.

Ruggio disse que vai processar quem o acusou de arrastar um animal vivo. “Pedi R$ 30 mil. Vou registrar em cartório, se eu ganhar, vou doar 40% para o asilo, 40% para o advogado e 20% para ressarcimento do dinheiro que já gastei”, garantiu.

Ruggio afirmou que, até agora, gastou mais de R$ 3 mil com a situação. Ele ainda negou qualquer tipo de maus-tratos contra a cadela. Inclusive, uma das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil (que presta serviços no estabelecimento de Ruggio) afirmou que, no dia a dia, a cadela era muito bem tratada.

Detalhes do relatório

Mesmo o laudo confirmado que a cadela estava morta, de acordo com o documento, foi configurado crime de maus-tratos. “Apesar do senhor Leonardo não ter arrastado o animal ainda em vida, ele cometeu crimes de maus-tratos, ‘onde’ segundo relato dele mesmo, deixava o cachorro preso a uma corrente, e também de maus-tratos que levaram a morte do animal por culpa, ‘onde’ ele (o cão) estava (sendo) criado às margens da rodovia, fato que, segundo informações, constava no termo de adoção que ele não poderia fazer”, concluiu o documento da Polícia Civil.

O laudo ainda salientou que Ruggio “vilipendiou o cadáver”.     

Causa da morte

Um possível atropelamento pode ter sido a causa da morte. O animal apresentava “hemorragia subperitoneal, podendo ser decorrente de um trauma contuso, que causou um choque hipovolêmico e levou a óbito”, informou o laudo.

Ruggio afirmou que um cachorro não pode ser considerado maltratado por estar solto. “Um dia, soltaram um cão em minha propriedade. Eu chamei a Zoonoses. O cão foi recolhido. Dias depois, o cão foi solto novamente e, passado um tempo, eu encontrei o mesmo animal morto perto da rodoviária”, relatou.   

Outro lado

O presidente da ONG Vidanimal, Jarbas Lima Lemes, explicou que os conselhos de medicina veterinária, atualmente, não recomendam espaços onde cães e gatos fiquem por muito tempo confinados – como é o caso do canil em Itabirito.

Segundo Lemes, o entendimento hoje passa pelo protocolos RED e CED. “RED” significa recolhimento, esterilização e devolução; e “CED” significa captura (em casos cães arredios, por exemplo), esterilização e devolução.

“Não há condições de termos mais animais no canil (atualmente, há mais de 150 animais no local). Se todos os cães capturados ficassem no canil, teríamos mais de 300. O que defende os conselhos veterinários são os RED e CED, como forma de esterilizar, tratar e devolver o animal para a rua onde ele possa ser cuidado por moradores locais, como cão comunitário”, disse o presidente da ONG.

De acordo com Lemes, em muitos países, não há mais canis com animais sendo cuidado por anos. “Nessas nações, os canis são ‘casas de passagem’. Temos hoje cães no canil de Itabirito que estão lá há anos. Cachorro adulto dificilmente é adotado”, salientou.

Ainda segundo Lemes, o Município não comete violação ao soltar um animal recolhido uma vez que o crime, de fato, foi praticado anteriormente (por quem abandonou o bicho). “O Município, no caso, aplicou o RED e devolveu o cão esterilizado e tratado para a rua (…). Contudo quando se trata de um animal adotado, ou seja, sob a tutela de alguém, deixá-lo na rua é, por exemplo, expô-lo ao risco de atropelamento. O que pode configurar maus-tratos”, salientou o presidente da Vidanimal.  

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